LAB internacional e inovação cidadã: experiências do Instituto Procomum no Sul Global e com a rede SulXSouth

O laboratório cidadão é um espaço onde pessoas de diferentes origens, territórios e saberes se encontram para criar, testar e prototipar soluções para desafios sociais, culturais e ambientais. No Instituto Procomum, esses laboratórios funcionam como territórios de experimentação, diálogo e aprendizagem mútua, nos quais a cooperação vale mais do que a competição. O erro é compreendido como parte essencial do processo criativo, e os projetos são desenvolvidos de forma aberta, com metodologias participativas e foco no impacto social e na transformação coletiva.

Para nós, inovação cidadã é a capacidade de comunidades, grupos sociais e cidadãos organizados criarem soluções para os desafios comuns de maneira colaborativa, horizontal e situada. É um processo que nasce das realidades locais e das inteligências diversas dos territórios, valorizando saberes populares, culturas periféricas, tecnologias sociais e a experimentação. A inovação cidadã não é apenas tecnológica: ela também se expressa nas formas de organização social, no cuidado com o comum, nas práticas de justiça social e climática, e em ações que ampliam direitos e democratizam o acesso a recursos, ferramentas e conhecimentos.

A prototipagem não foi inventada por nós. Ela é uma prática bem conhecida nos campos da inovação, ciência, tecnologia e desenvolvimento de software. Desde o início dos anos 2000, com a internet e a ampliação do acesso ao conhecimento, ficou mais fácil para qualquer cidadão experimentar e criar. Por outro lado, a inovação passou a ser cada vez mais direcionada para a geração de vantagens competitivas, muitas vezes restritas a interesses privados. Foi nesse contexto que o Instituto Procomum, junto com outras organizaçoes, coletivos e pessoas que dividem os mesmos ideias, se propôs a criar ambientes de laboratório onde as pessoas que vivem os problemas pudessem também experimentar, criar e até errar com o objetivo de fortalecer bens comuns e promover soluções coletivas.

Seguindo esses princípios, desde a fundação do Lab Procomum, temos impulsionado protótipos como desdobramentos das diversas ações que temos realizado. Em 2022 e 2023, por exemplo, demos um passo importante ao realizar nossa primeira experiência internacional com o LA Cuida – Laboratório de Ativação da Economia do Cuidado, um espaço onde realizamos laboratórios cidadãos para desenvolvimento e prototipação de ideias sobre temas relacionados à economia do cuidado, cuidado e o Comum. As imersões aconteceram respectivamente na Colômbia e no Uruguai. Nestes territórios foram impulsionados 19 protótipos provenientes de diversos territórios destes países.

 

SulXSouth – de encontro à construção de uma rede pela justiça climática:

Após muitas conversas, UMI Fund e Procomum reconheceram a importância de reunir na mesma mesa ativistas de diferentes partes do Sul Global. Partimos da compreensão de que nós, que vivemos nessa região do mundo, estamos entre os mais afetados pelos impactos das crises climáticas que, em grande medida, têm origem nos modos de produção e consumo dos países do Norte Global. O encontro revelou muitas convergências nas preocupações e nas questões levantadas, mas também deixou evidente a enorme desigualdade em relação às proporções e aos impactos dessas crises em cada território. Foram 4 dias de encontros, palestras, conversas, dinâmicas e prototipagem. Durante o encontro, realizamos um mini laboratório, na qual os participantes formaram grupos com propostas de ações que gostariam de realizar junto a partir dos aprendizados e vivencias no encontro.

Dar continuidade a estes protótipos está sendo uma oportunidade de desafiar nossa própria metodologia, testando-a em um laboratório online, conduzido em três línguas, com participantes de diferentes regiões do Sul Global. Até o final de agosto de 2025, os grupos participantes trê grupos apresentarão suas propostas finais:

 

Biblioteca de Histórias Climáticas: 

Rafael Glória – Nonada

Rafis Martins– Sapiência

Auska Ovando –

Walter Oliveira – Coletivo Jovem Tapajônico

Matheus Lípari – Coletivo 302

Allana Santos – Coletivo 302

Sungu Oyoo – Mwanko

Plataforma reunindo histórias de pessoas e de territórios, que tenham passado por situações de ordem climática/ambiental, territórios vulneráveis, etc.

Inicialmente a captação das histórias será a partir das pessoas e instituições envolvidas no protótipo. Ainda durante a prototipagem será desenvolvida uma instalação (usando recursos de áudio, vídeo, artes visuais, lambe) para apresentar algumas histórias, com objetivo de sensibilizar instituições e pessoas que tenham acesso à instalação.

 

Cardumes do Sul:

Asiphile – Groundwork

Guilherme – Instituto Pólis

Akshay –  Haiyya

Ana Rosa – Engajamundo

Divya Narayanan – Jhatka

 

Construção e fortalecimento do poder coletivo no Sul Global por meio de espaços de intercâmbio baseados em metodologias colaborativas e de resistência, focadas no bem-estar/saúde de ativistas, táticas e formação/incidência política. Criação de um webinário  focado na troca de aprendizado, troca de conhecimento das comunidades.

 

Imaginários Enraizados:

Andrea Ixchiu – Hackeo Cultural

Mitzy Cortés – Hackeo Cultural

Maria Paula Murcia Huertas – Mutante

Fernando Henrique de Gois – Olhar Marginal

Madu –  Olhar Marginal

 

Desenvolver um manual digital de recomendações narrativas sobre cuidados e obstáculos para integrar a reivindicação do conhecimento local e ancestral nessa conversa, no âmbito da COP30.

Para garantir a qualidade dessa experiência internacional, estruturamos um processo sólido: encontros com tradução simultânea, encontros quinzenais, dois facilitadores responsáveis pela condução das atividades online e uma pessoa dedicada ao acompanhamento dos grupos, oferecendo suporte técnico e metodológico. Definimos um cronograma claro e disponibilizamos recursos financeiros para viabilizar o desenvolvimento das ideias. Mas reforçamos: o mais importante não é o produto final de cada protótipo, e sim a construção de redes de colaboração, escuta e aprendizagem mútua.

Essa jornada conta com a participação de pessoas da Colômbia, México, Guatemala, Brasil, Índia, África do Sul e Nigéria, fortalecendo ainda mais a conexão entre lutas, saberes e práticas do Sul Global. Impulsionar protótipos, para nós, vai muito além do resultado final: trata-se de criar conexões, reconhecer forças e desafios coletivos, e fortalecer redes de apoio e aprendizado.

A network of the Global South for Climate Justice.

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